sexta-feira, junho 21, 2013

Primavera verde amarela

Estamos a chegar ao décimo dia de manifestações em São Paulo.

Os 20 centavos da tarifa do autocarro transformaram-se em centenas de milhões, bilhões até, como se chama por aqui aos milhares de milhões.

Os Brasileiros acordaram do samba, cerveja e futebol.

Ainda não têm rumo, mas já têm indignação. E fazem-no em paz. Lindo.

A imprensa não consegue lidar devidamente com a questão, os políticos muito menos, e o povo sorri, como se se tivesse libertado de uma censura.

A batalha vai ser longa, e estou para ver quem se aguenta melhor - se o povo se os políticos.

Para já, estou a viver história. Espectacular.

segunda-feira, abril 05, 2010

O que é nacional é bom

Somos sempre muito bons a criticar, a desvalorizar, a jurar ser capazes de fazer melhor.

Sou um patriota, um apaixonado pelo meu País, ainda que tantas vezes um revoltado com a sua estagnação actual.

Mas vivo com intensidade Portugal e o que é ser Português, a língua, a pátria e os costumes.

Felizmente por aqui, ser-se educado (ainda) é um valor essencial, e por isso, lembro-me da história que alguém contava de, perante uma criança muito educada que alguém elogiava abundantemente, o Pai responder, "não é mais que sua obrigação".

O tempo, o dinheiro, até um complexo de inferioridade que nos acompanha tantas vezes leva-nos frequentemente a desvalorizar coisas em que realmente somos bons.

Mas, às vezes, há que elogiar.

Na última semana, fui confrontado com algumas situações que me fieram ainda mais acentuar a certeza de que, realmente, o que é PortuguÊs é bom.

Caso nº 1:
A caminho de uma viagem intercontinental, dei por mim em cima da hora a fazer o check-in sem passaporte. A importância da viagem não me permitia perdê-la de forma nenhuma. E perante o meu pedido de compreensõ, o gentil senhor da Groundforce (sim, essa companhia qu tantas vezes ouvimos criticar) deu-me meia-hora para que lhe pudesse apresentar o passaporte, isto depois de o check-in já ter fechado. Com a ajuda da minha Mulher, apresentei o passaporte e voei. Não pude deixar de me lembrar de uma situação há não muitos anos em que uma operadora de check-in fechou um check-in na minha cara em Paris, a mais de uma hora do vôo e foi o cabo dos trabalhos para conseguir embarcar!
Decididamente, aqui temos valor acrescentado nacional!

Caso nº 2
Na mesma viagem, numa companhia de bandeira europeia, supostamente pertencente a um grande grupo, vi o meu vôo ser duas horas porque a tripulação, em véspera de feriado numa cidade conhecida pelo seu intenso trânsito nesses dias, não antecipou a sua ida para o avião. Resultado, quase 200 pessoas perderam as suas ligações.
Esta tripulação, ao contrário da TAP, fica num hotel de 5 estrelas cheia de mordomias, serve as pessoas com agressividade, literalmente atirando a comida para as mesas, esquece-se das bebidas, não atende durante o vôo e não tem cobertores sobressalentes num vôo nocturno intercontinental.
É, certamente, mais barata que a TAP num mesmo trajecto. Mas é francamente pior, e faz-nos sentir orgulho da nossa companhia!

Sim, foram dias em que o orgulho de ser Português saiu acentuado. Somos um país de BONS costumes, sabemos servir, sabemos como tratar os nossos clientes.

E por isso, temos que nos orgulhar e acentuar, muitas e muitas vezes, o que é Nacional é bom! Somos um excelente país.

Só nos falta orientar isto e tirar o melhor partido.

sábado, fevereiro 27, 2010

Ontem enquanto olhava a Lua...

Ontem, enquanto à noite, saindo da casa de um Amigo apreciava silencioso a Lua, o mundo tremia não muito longe de onde me encontro.

Ontem, olhando uma maravilha da natureza, inebriando-me com a sua força simbólica e a sua aura, a natureza sacudia-se e arrasava, rebelava-se.

No presente dos dias (e das noites), busco-me e confundo-me, por entre uma nova realidade que me sacode todos os dias quase como o tremor revolto de ontem.

Brincamos aos deuses, uns mais que outros, à nossa escala e dimensão, querendo encontrar as referências que nos encaminhem nos horizontes da vida. E no entanto, a cada dia, recebemos sinais dispersos e conflituantes, de que sim e de que não, de bom e de mau, de sorrisos e de choros, e arrepios de dor e espasmos de prazer.

Hoje apetecia-me dizer muita coisa... Falar do sol, da chuva, da Lua e da Terra, mas não há meio de fazer com que as linhas de pensamento se organizem, se conjuguem em ideais articuladas que justifiquem mais mensagem.

Escrevo na mesma, porque estou farto de apagar, e acredito mais em construir que destruir, em torcer que quebrar (independentemente do que disser o ditado!)

E fico a pensar que ontem, enquanto olhava a Lua, o tempo parecia parar e por um momento ser só meu e eu ser Deus. Mas,afinal, não foi bem assim.

E daqui, deste periscópio da vida, procurando olhar distante o que acontece à minha volta, sento-me e absorvo.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Liberdade de expressão

Por estes dias, ouve-se em todos os cantos gritos de alerta por causa da liberdade de expressão (ou falta dela).
Confesso que este sempre foi um tema que gerou alguma controvérsia dentro de mim próprio. Não porque não acredite na liberdade de expressão, antes porque o mundo ocidental sempre foi perverso na gestão da expressão.
Todos somos a favor da liberdade de expressão excepto quando ela nos incomoda, veja-se os casos dos partidos radicais de direita, dos castigos aos presidentes de clubes de futebol ou os despedimentos por causa do facebook, isto sem esquecer aquele direito que os jornalistas (e os paparazzi) tanto prezam - o direito de informação.
Sempre questionei as situações em que os fins justificaram os meios. Os jornalistas cometem ilegalidades, e ninguém os pode incomodar.
Quando o tiro lhes sai pela culatra, ficam muito revoltados.
Em nome da liberdade de expressão, não terá o Primeiro-ministro direito, na verdade, de dizer o que quer? Ou, por ser PM, os seus direitos são limitados? Ou será que aqui, mais que direitos, estamos a falar de deveres?
Do meu ponto de vista, ninguém pode criticar as conversas do PM e seus amigos. São legítimas e entende-se de onde vem.
Mas, se se tornarem acções, aí, será diferente.
Conversas como a de que se fala devem acontecer muitas vezes. A prova de que ainda existe liberdade de expressão está na importância que esta situação assumiu.
Mas será que aqueles que se auto-intitulam arautos da liberdade de expressão o são realmente? Será que os editores e os jornalistas são mesmo imparciais e livres? Publicarão mesmo os jornais noticias que afectem os seus donos e/ou patrocinadores e/ou “amigos”? E será que isso não é natural? Legitimo?
Penso que a reflexão a fazer tem de ser mais profunda que a superficialidade em que está a ser mantida, com uns quantos a tentarem tirar partido da situação, passando-se por vítimas.
Considero que os meios actuais de informação dificultam (e muito, veja-se a superpoderosa China e o problema Google!) a existência de uma restrição de informação efectiva, em particular nos países mais desenvolvidos. Temos todos de aprender a viver neste novo mundo, em que os meios são mais e com um impacto muito maior.
Talvez o ideal seja o Governo trocar as encomendas de vacinas junto da Glaxo por pastilhas para a azia e aguentar...

domingo, dezembro 06, 2009

O presente e o futuro

Fiz uma tatuagem.

Depois de 10 anos de reflexão, uma dezena inteira de anos, uma infinidade de meses, de dias "and so on", decidi fazer uma marca no meu braço direito, numa das mais pensadas decisões da minha vida.

Sempre fui impulsivo em algumas das questões mais fundamentais da minha vida - no Amor, no trabalho - mas sempre me considerei alguém que reflecte muito antes de avançar com fosse o que fosse.

Digo de mim mesmo que resisto à mudança, que prefiro o mal conhecido à incógnita desconhecida.

Por isso, sempre me tive como prudente, alguém que pensa e reflecte o seu presente e o seu futuro.

Aqui, neste país abençoado por Deus, longe da minha terra de origem, mas descobrindo-me todos os dias numa terra inebriante e sedutora, descubro que no olhar a vida no presente, no imediato, no "amanhã quando muito", prepara-se muito bem o futuro. Repetem-se expressões e experiências imediatistas, despreocupadas, mas também despretensiosamente inocentes, agarradas a um presente absoluto e a um futuro ausente. E curiosamente, constrói-se um futuro assim.

Aqui, as incógnitas são tantas, as incertezas tão diversas que não vale a pena pensar muito longe. Pelos menos, assim pensam muitos dos daqui.

É verdade que só com risco se ganha, mas também o é que com certezas se respira melhor. Pelo menos no curto-prazo.

Quando acompanho as notícias do meu País, fico assustado com a facilidade com que se olha para um passado em que "ah! era tão bom!" e um futuro que "ah! devia ser assim!", ignorando um presente que, afinal, é o que se vive...

Descobri que uma e outra versões não são afinal assim tão diferentes... Afinal, todos procuramos a mesma coisa - dias bons. Só que enquanto uns, na sua personalidade genética tão marcada por vidas com tão pouco futuro, vivem, outros (nós, que não posso fugir, também sou destes!) com a sua identidade tão timbrada pelo passado, distraímo-nos, esquecemo-nos e perdemos todos os presentes da nossa vida sonhando com futuros que nunca vêm.

Somos assim, na política, no futebol, na arte, na vida. Adoramos falar sobre o que foi e sobre o que poderia ter sido. Somos o país dos comentadores, dos saudosistas, dos velhos do Restelo.

Por isso, quis mudar. Quis viver o presente e na colecção (do verbo colectar) de presentes, construír o futuro. Por isso, fiz uma tatuagem.

Marquei-me para a vida com uma marca simbólica e pessoal de orientação e conforto. Gravei na minha pele o meu Norte, e fi-lo para não me esquecer de que no presente ou no futuro, o importante é sentirmo-nos bem connosco mesmos. E vivermos.

terça-feira, outubro 27, 2009

Saramago, Maitê e o topo do mundo

As palavras conseguem deixar-nos marcas dolorosas muitas vezes, como se fossem punhais, pontas incandescentes de marcadores de cavalos que nos gravam na pele registos incontornáveis.

Se algo aprendi ao longo dos últimos anos em que assisto (e participo) em polémicas tantas vezes foi que, no entanto, uma conduta regida por valores é mais íntegra, mais válida, e acima de tudo mais coerente, e por isso, embora muito sujeita a ataques, certamente pouco susceptível a eles.

É que ofender não é para quem quer, é para quem pode.

Quando ouço um nobre escritor Português, cuja escrita particularmente admiro pela sua crueza e genialidade dizer aquilo que os Americanos tão bem intitulam como "bullsh*t", não consigo deixar de sorrir...

Saramago escreve recorrentemente sobre coisas em que não acredita, temas que sabe que serão polémicos, despertarão acesas paixões e discussões, e certamente, mantê-lo-ão na berra. Saramago é um génio do marketing, um verdadeiro mestre na arte de entrar dentro das nossas profundas convicções e abalá-las com palavras ferozes e contundentes, ditas naquele tom (quase) angelical de quem tem para cima de 80 anos e vive numa ilha (quase) deserta.

Vindas de Saramago, que descreve com aquela crueza comportamentos humanos degradantes e degradados nos seus livros (vem-me de repente o badalado Ensaio sobre a Cegueira e aquelas regras do sanatório), não me espantam.

Espantam-me, chocam-me isso sim, as reacções fleumáticas e explosivas de quem deveria ter melhores conselheiros e o aproveitamento básico e elementar que, infelizmente mais uma vez, os órgãos de comunicação social fazem do tema.

Eu sou "filho da Liberdade", nascido depois de 74, e aprendi muito bem esse credo - TODOS têm direito a ter QUALQUER opinião. Choca saber que continua a haver saudosistas radicais, nazis, comunistas fundamentalistas, anárquicos e tarados? Claro que sim. Mas se somos livres, temos de os deixar existir.

Lembro as palavras de um Homem que admiro profundamente que, à minha pergunta de jovem devoto: "Mas porque deixa Deus que exista o Mal?" me respondia com sabedoria: "Porque Deus não impede nada. Mas, quando somos livres, só escolhemos o melhor para nós, o Bem".

A mesma coisa com a crónica pateta da Maitê Proença. Nada naquela crítica cómica e (na minha opinião) vagamente conseguida ofende qualquer pessoa que tenha visto os Gatos, os Contemporâneos ou mesmo os Homens da Luta. Será o sotaque? Ou será o facto de o "barrete" servir em algumas cabecinhas?

No nosso colectivo, deixar-mo-nos atingir por estas demonstrações de liberdade (e pouco senso, se virmos bem as coisas...) só demonstra o fatal complexo Português, uma espécie de vergonha por estarmos num canto da Europa (seja Sul ou Oeste, como alguns novos complexados agora pretendem localizar-nos), mas certamente periféricos.

Sem querer (ou querendo - ver blog anterior, ainda antes de saber o que me ia acontecer) , vim nos últimos meses parar ao Brasil, onde estou a residir numa cidade maior que o meu País.

Aqui, todos os dias se valoriza o que é brasileiro, as empresas batem no peito pelo que fazem pela Nação, o Estado orgulha-se da evolução do País. E não há roubos, não há corrupção, insegurança, incertezas? Claro que sim, mas há auto-estima e fé inabaláveis.

Os brasileiros repetem muitas vezes que são "abençoados por Deus". Mesmo quando não têm o que comer, mal têm onde dormir e não saem se vão chegar a casa vivos do trabalho.

Há quem lhes chame conformados. Eu acredito que são descomplexados. Os Brasileiros são o que são, acreditam no que acreditam e podem vir dizer o que quiserem, eles continuarão assim.

Nós, Portugueses, parecemos uns "meninos", filhinhos mais novos, incorfomados se não tivermos a aprovação dos papás e dos manos. E se aparece uma boneca que diz que somos feios em vez de sermos bonitos, ficamos muito aflitos. Se aparece um não-crente ferindo as nossas crenças, ai Jesus Mãezinha.

Cresçamos e ganhemos senso...

Deixe-no vir, que estamos cá para eles.

O topo do Mundo está aqui, e em qualquer lugar. Nós estamos no topo do Mundo.

Pelo menos, assim parece aqui deste periscópio.

terça-feira, julho 14, 2009

E esta, hein?

Estava eu todo preocupado com as férias que se aproximam, fazendo contas sobre o que poderia ou não fazer, quantos dias, quantos mimos, quantos luxos, quando fui confrontado por uma doce e carinhosa carta vinda do nosso Ministério das Finanças, com a conta do IRS.

E eu, que todos os anos alardeio a prudência com que desconto mais do que o devido, procurando realizar uma poupança que me permita chegar a férias e receber um prémio pelo meu bom comportamento fiscal, não poderia ter recebido maior surpresa!

Em vez desse prémio tão desejado, recebi uma conta, uma nota fria e dolorosa, informando-me que as várias dezenas de milhar de euros deixadas já em sede de IRS não eram, afinal, suficientes para cumprir as minhas responsabilidades fiscais.

Fiquei chocado, é bom de ver, pois não sou assim tão abastado, apenas um jovem empreendedor, procurando criar algum fundo de maneio para o futuro incerto a curto e a longo prazos...

Liguei à minha contabilista, boa Amiga e competente técnica, na esperança de que ela houvesse encontrado um qualquer erro na declaração, uma má inserção, qualquer coisa que pudesse transformar a dolorosa carta num maravilhoso equívoco. Mas não... A declaração estava correcta, os valores a pagar eram "os devidos".

Procurei perceber o que se passava, ela explicou-me:

- Tenho rendimentos de uma casa que comprei com empréstimo bancário, um PPR que a família procura manter com esforço, pagando as rendas do banco integralmente com as rendas que recebemos. Mas, eis que a renda recebida entra totalmente para o Rendimento, mas a renda paga não. E, coitadinho do Estado, neste ano de Investimento Público, há-que ir buscar dinheiro a algum lado. Então, reduzamos os limites de dedução, para que esses malandros que tentam investir percebam que o melhor é estarem quietos. Mensagem percebida, Sr. Ministro das Finanças!

- Estou a tentar criar uma empresa com um amigo, mas quando fomos estudar a tributação das receitas, verificámos que afinal, estou a criar uma empresa com dois sócios - o meu Amigo e o Estado. Fui, por isso, ao Ministério, saber o que o meu sócio Estado me estava disposto a dar, como apoio. Depois de várias reuniões e estudos de financiamento, a conclusão é simples: Uma palmadinha nas costas e as contas no final do ano.

Perante tudo isto, as palavras desse ícone da comunicação que acompanhou a minha infância e juventude, algures no final do telejornal, soaram na minha cabeça: "E esta, hein?"

Isto é que é parceiro! Sejamos sinceros e honestos, eu sou o primeiro a querer ter os meus impostos pagos e acertados, mas perante uma postura vil e tão pouco parceira, confesso que me sinto desmotivado. E perante coisas como estas, dá vontade se ser Brasileiro...

Será que eles também são assim com os impostos? Bem, mas pelo menos, dão-nos aquelas praias maravilhosas e os petiscos ASAE-free, que fazem tudo tão mais barato...

Que ricas férias se avizinham!