Estava eu triste, cabisbaixo, olhando com desencanto a minha conta bancária, preocupado com as perspectivas de contas futuras e menores perspectivas de rendimentos futuros quando deparei com uma transferência cujo valor (nem origem) reconheci.
No assunto, referia "Direcção", e o valor era generoso!
Será que a Direcção da empresa onde trabalho me quis premiar pela dedicação e empenho que lhe tenho dedicado?
Ou seria a Direcção do Banco que, generosa, decidiu premiar os seus clientes para além dos seus gestores?
Talvez a Direcção da Santa Casa, incentivando-me a concorrer ao jackpot mais recente do concurso da moda?
Quis pegar no dinheiro e marcar umas férias, comprar prendas para a Família, reforçar as poupanças (afinal, a crise das perspectivas ainda pairava no ar...), quis partir, deixando o trabalho para trás, para celebrar esta vitória antecipada do ego e da conta bancária, mas, por um qualquer irracional sentido de prudência, quis ligar para o banco e perguntar de onde vinha.
Espantei a pobre bancária que me atendeu, confusa com a pergunta que lhe colocava. "Mas tem a certeza que não é seu?!?"
"A certeza não tenho, mas não o reconheo, veja por favor de onde veio..."
A conversa durou poucos minutos, a que se seguiu um longo período de espera, um suspense perturbador de dúvida e incerteza sobre o dinheiro e o futuro.
"Sr. Dr., a quantia vem da Direcção-Geral das Alfândegas..."
Uma luz acendeu-se na minha cabeça! Há muito tempo atrás, havia adquirido no exterior um carro para a família, e aguardava, de facto, a devolução de uma qualquer taxa (escandalosa!, abusadora!, dissera eu na altura). Aí estava ela.
E, de repente, tudo ficou mais claro para mim.
O Estado, essa entidade sempre tardia a pagara, sempre em défice, afinal tinha dinheiro!
E se eles, os pobres, os que tanto precisavam dos nossos impostos, taxas e selos que nunca vi, os nossos sócios nas receitas e ausentes nas perdas, ali estavam eles a pagar-me o que era meu.
Sem juros, é certo, mas pago!
Percebi nesse momento que a crise acabou. O Estado tem dinheiro! E se o Estado tem dinheiro, podemos ir para o desemprego, para a bancarrota, para onde for, que o Estado há-de andar aí a pagar as contas. E só com o dinheiro que nos deve, a cada um de nós, havemos de sobreviver!
Vamos receber as baixas, os abonos, os juros estrategicamente retirados dos certificados de aforro, os acertos de arredondamento das empresas públicas e as taxas de serviços que não existem ocultas nas contas da luz.
A crise acabou! Podemos começar a respirar de novo e agradecer aos Deuses por isso.
Agora, é só olhar para a conta bancária e sorrir...
sábado, março 07, 2009
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