terça-feira, maio 12, 2009

O serviço

Os dias passam, reuniões (mais ou menos) secretas de (mais ou menos) políticos realizam-se com objectivos (mais ou menos) de Estado.

Os jornalistas tremem com o fervor das campanhas que se avizinham, os designers e publicitários perdem o sono (re)criando slogans e mensagens que (supostamente) levarão mais pessoas às urnas, no primeiro fim-de-semana de Junho.

É a campanha para as Europeias, convivendo com a das Autárquicas, pré-convivendo com a das Legislativas.

E os chavões começam: "vitória", "maioria absoluta", dizem uns. "desgraça", "calamidade", ("fascistas" até) dizem outros.

E o povo espera, pacientemente, por esse dia, e vê-o passar desinteressadamente, talvez pensando em ir votar, se não estiver calor, se não quiserem ir ao shopping, se se lembrarem, se não for preciso ir visitar a sogra, o amigo, a madrinha, enfim, se não pudermos mesmo fugir.

Valham-nos os belgas, onde se passa multas a quem não votar! Aí, ao menos, ninguém se queixa depois das eleições sem ter exercido o seu direito de opinião.

Eu junto-me aos desencantados. Não porque não acredite nos políticos, não porque pense que o meu voto não tenha valor. Antes porque ACREDITO neles.

Acredito na sua pequenez, no seu egocentrismo, na sua irredutível vontade de servir os seus interesses e os dos seus partidos.

Para mim, falta uma palavra nestas (e em todas as) eleições.

Sonho com o dia em que alguém dedique uma campanha ao SERVIÇO. Serviço do seu país, serviço dos eleitores e dos não eleitores. Sonho com o dia em que, findas as contagens de votos, um partido se congratule com os X milhares de votos recebidos e se responsabilize, não apenas por esses, mas por todos.

Sei que eles tentam. Sinceramente, acredito que alguns (ainda) acreditem. E tentar, já dizia algum sábio antigo, tentar é uma obrigação. Já conseguir, nem sempre...

Por isso, vou esperar. Um dia, talvez tente. Talvez acredite que possa ajudar, e vá a essa luta. Mas hoje, hoje não. Ainda não acredito que possa fazer a diferença. Ainda tenho coisas minhas em que pensar, e não tenho tempo para estar ao serviço.

Mas daqui, desta janela para o mundo, vou esperar. E a paciência é uma virtude.

quinta-feira, maio 07, 2009

Equilíbrios

Relaxando após mais um dia intenso de trabalho, jantava em frente à televisão assistindo a séries americanas da moda, procurando nos encontros e desencontros, nos amores e desamores, nos equilíbrios e desequilíbrios dos seus personagens pontos de equilíbrio para mim e para o meu dia.

Sou e sempre fui um fã de televisão e cinema "popcorn", produtos de consumos simples, sem complicações, incapazes de criar azias ou insónias, no fundo, produtos simples, tipo "pastilha" de descanso mental. E fascinam-me esses argumentistas (tantas vezes) industriais, capazes de escrever as falas de tantos e tão diversos personagens.

Pergunto-me muitas vezes quem serão essas pessoas por detrás das falas.

Hoje, assisti a espisódios de suas séries seguidas, que sendo de épocas diferentes, são (acho eu!) escritas pela mesma pessoa. E sendo um fã da psicologia de bolso, procurava ver nas série o reflexo dos seus autores. Ficou-me clara numa delas a imagem de um escritor jovem, acelerado, com a cabeça a latejar de ideias, de histórias, de emoções intensas mas superficiais. E ainda que os jovens sejam certamente profundos, quantas e quantas vezes a intensidade e sofreguidão dos seus sentimentos nem lhes chega ao fundo da alma, quase como um incêndio devastador que, galgando com tanta força os montes, passa tão depressa pelas árvores que não as chega a queimar.

A outra, por seu lado, reflectia um escritor mais maduro, mais preocupado com a profundidade dos seus sentimentos, ainda que por vezes inebriado na intensidade. Mas onde essa intensidade é como que um bem-vindo regresso ao passado temporário e não um conflito hormonal permanente.

Nesta segunda série, as histórias são talvez menos intrincadas, e certamente mais simples, ritmadas, balanceadas por outros sentimentos, convicções e experiências.

Isto pôs-me a pensar em equilíbrio, e em como ele é vulnerável, dinâmico e subjectivo.

Há muito quem me pense flexível, dobrável, influenciável.

E, no entanto, tal não passa de uma estratégia de sobrevivência e pesquisa da felicidade.
Porque me considero racional, não acho que o equilíbrio tenha de ser a meio. Acho, isso sim, que cada pessoa e acção têm o seu ponto de equilíbrio próprio.

Acho que por ter esta visão dinâmica, diria até mesmo criativa do equilíbrio que me sinto confortável a negociar, a procurar o ponto de encontro, de igual satisfação, de majoração do resultado.

E a vida é uma gestão de equilíbrios. No trabalho, em casa, no trabalho face a casa, na família face ao trabalho, face à casa, face a nós próprios e ao nosso individualismo.

E o mais interessante é que cada um destes equilíbrios é dinâmico, variável, oscilante, impedindo as receitas e as medidas e trazendo à vida uma carga de incerteza e adrenalina por vezes angustiante.

Hoje, este blog é feito de mim. Talvez porque precise dele para encontrar de novo o ponto de equilíbrio. Talvez porque às vezes faz-nos falta recolher o periscópio e olhar para nós mesmos.

Para então encontrarmos o nosso equilíbrio.