domingo, dezembro 06, 2009

O presente e o futuro

Fiz uma tatuagem.

Depois de 10 anos de reflexão, uma dezena inteira de anos, uma infinidade de meses, de dias "and so on", decidi fazer uma marca no meu braço direito, numa das mais pensadas decisões da minha vida.

Sempre fui impulsivo em algumas das questões mais fundamentais da minha vida - no Amor, no trabalho - mas sempre me considerei alguém que reflecte muito antes de avançar com fosse o que fosse.

Digo de mim mesmo que resisto à mudança, que prefiro o mal conhecido à incógnita desconhecida.

Por isso, sempre me tive como prudente, alguém que pensa e reflecte o seu presente e o seu futuro.

Aqui, neste país abençoado por Deus, longe da minha terra de origem, mas descobrindo-me todos os dias numa terra inebriante e sedutora, descubro que no olhar a vida no presente, no imediato, no "amanhã quando muito", prepara-se muito bem o futuro. Repetem-se expressões e experiências imediatistas, despreocupadas, mas também despretensiosamente inocentes, agarradas a um presente absoluto e a um futuro ausente. E curiosamente, constrói-se um futuro assim.

Aqui, as incógnitas são tantas, as incertezas tão diversas que não vale a pena pensar muito longe. Pelos menos, assim pensam muitos dos daqui.

É verdade que só com risco se ganha, mas também o é que com certezas se respira melhor. Pelo menos no curto-prazo.

Quando acompanho as notícias do meu País, fico assustado com a facilidade com que se olha para um passado em que "ah! era tão bom!" e um futuro que "ah! devia ser assim!", ignorando um presente que, afinal, é o que se vive...

Descobri que uma e outra versões não são afinal assim tão diferentes... Afinal, todos procuramos a mesma coisa - dias bons. Só que enquanto uns, na sua personalidade genética tão marcada por vidas com tão pouco futuro, vivem, outros (nós, que não posso fugir, também sou destes!) com a sua identidade tão timbrada pelo passado, distraímo-nos, esquecemo-nos e perdemos todos os presentes da nossa vida sonhando com futuros que nunca vêm.

Somos assim, na política, no futebol, na arte, na vida. Adoramos falar sobre o que foi e sobre o que poderia ter sido. Somos o país dos comentadores, dos saudosistas, dos velhos do Restelo.

Por isso, quis mudar. Quis viver o presente e na colecção (do verbo colectar) de presentes, construír o futuro. Por isso, fiz uma tatuagem.

Marquei-me para a vida com uma marca simbólica e pessoal de orientação e conforto. Gravei na minha pele o meu Norte, e fi-lo para não me esquecer de que no presente ou no futuro, o importante é sentirmo-nos bem connosco mesmos. E vivermos.