domingo, dezembro 06, 2009

O presente e o futuro

Fiz uma tatuagem.

Depois de 10 anos de reflexão, uma dezena inteira de anos, uma infinidade de meses, de dias "and so on", decidi fazer uma marca no meu braço direito, numa das mais pensadas decisões da minha vida.

Sempre fui impulsivo em algumas das questões mais fundamentais da minha vida - no Amor, no trabalho - mas sempre me considerei alguém que reflecte muito antes de avançar com fosse o que fosse.

Digo de mim mesmo que resisto à mudança, que prefiro o mal conhecido à incógnita desconhecida.

Por isso, sempre me tive como prudente, alguém que pensa e reflecte o seu presente e o seu futuro.

Aqui, neste país abençoado por Deus, longe da minha terra de origem, mas descobrindo-me todos os dias numa terra inebriante e sedutora, descubro que no olhar a vida no presente, no imediato, no "amanhã quando muito", prepara-se muito bem o futuro. Repetem-se expressões e experiências imediatistas, despreocupadas, mas também despretensiosamente inocentes, agarradas a um presente absoluto e a um futuro ausente. E curiosamente, constrói-se um futuro assim.

Aqui, as incógnitas são tantas, as incertezas tão diversas que não vale a pena pensar muito longe. Pelos menos, assim pensam muitos dos daqui.

É verdade que só com risco se ganha, mas também o é que com certezas se respira melhor. Pelo menos no curto-prazo.

Quando acompanho as notícias do meu País, fico assustado com a facilidade com que se olha para um passado em que "ah! era tão bom!" e um futuro que "ah! devia ser assim!", ignorando um presente que, afinal, é o que se vive...

Descobri que uma e outra versões não são afinal assim tão diferentes... Afinal, todos procuramos a mesma coisa - dias bons. Só que enquanto uns, na sua personalidade genética tão marcada por vidas com tão pouco futuro, vivem, outros (nós, que não posso fugir, também sou destes!) com a sua identidade tão timbrada pelo passado, distraímo-nos, esquecemo-nos e perdemos todos os presentes da nossa vida sonhando com futuros que nunca vêm.

Somos assim, na política, no futebol, na arte, na vida. Adoramos falar sobre o que foi e sobre o que poderia ter sido. Somos o país dos comentadores, dos saudosistas, dos velhos do Restelo.

Por isso, quis mudar. Quis viver o presente e na colecção (do verbo colectar) de presentes, construír o futuro. Por isso, fiz uma tatuagem.

Marquei-me para a vida com uma marca simbólica e pessoal de orientação e conforto. Gravei na minha pele o meu Norte, e fi-lo para não me esquecer de que no presente ou no futuro, o importante é sentirmo-nos bem connosco mesmos. E vivermos.

terça-feira, outubro 27, 2009

Saramago, Maitê e o topo do mundo

As palavras conseguem deixar-nos marcas dolorosas muitas vezes, como se fossem punhais, pontas incandescentes de marcadores de cavalos que nos gravam na pele registos incontornáveis.

Se algo aprendi ao longo dos últimos anos em que assisto (e participo) em polémicas tantas vezes foi que, no entanto, uma conduta regida por valores é mais íntegra, mais válida, e acima de tudo mais coerente, e por isso, embora muito sujeita a ataques, certamente pouco susceptível a eles.

É que ofender não é para quem quer, é para quem pode.

Quando ouço um nobre escritor Português, cuja escrita particularmente admiro pela sua crueza e genialidade dizer aquilo que os Americanos tão bem intitulam como "bullsh*t", não consigo deixar de sorrir...

Saramago escreve recorrentemente sobre coisas em que não acredita, temas que sabe que serão polémicos, despertarão acesas paixões e discussões, e certamente, mantê-lo-ão na berra. Saramago é um génio do marketing, um verdadeiro mestre na arte de entrar dentro das nossas profundas convicções e abalá-las com palavras ferozes e contundentes, ditas naquele tom (quase) angelical de quem tem para cima de 80 anos e vive numa ilha (quase) deserta.

Vindas de Saramago, que descreve com aquela crueza comportamentos humanos degradantes e degradados nos seus livros (vem-me de repente o badalado Ensaio sobre a Cegueira e aquelas regras do sanatório), não me espantam.

Espantam-me, chocam-me isso sim, as reacções fleumáticas e explosivas de quem deveria ter melhores conselheiros e o aproveitamento básico e elementar que, infelizmente mais uma vez, os órgãos de comunicação social fazem do tema.

Eu sou "filho da Liberdade", nascido depois de 74, e aprendi muito bem esse credo - TODOS têm direito a ter QUALQUER opinião. Choca saber que continua a haver saudosistas radicais, nazis, comunistas fundamentalistas, anárquicos e tarados? Claro que sim. Mas se somos livres, temos de os deixar existir.

Lembro as palavras de um Homem que admiro profundamente que, à minha pergunta de jovem devoto: "Mas porque deixa Deus que exista o Mal?" me respondia com sabedoria: "Porque Deus não impede nada. Mas, quando somos livres, só escolhemos o melhor para nós, o Bem".

A mesma coisa com a crónica pateta da Maitê Proença. Nada naquela crítica cómica e (na minha opinião) vagamente conseguida ofende qualquer pessoa que tenha visto os Gatos, os Contemporâneos ou mesmo os Homens da Luta. Será o sotaque? Ou será o facto de o "barrete" servir em algumas cabecinhas?

No nosso colectivo, deixar-mo-nos atingir por estas demonstrações de liberdade (e pouco senso, se virmos bem as coisas...) só demonstra o fatal complexo Português, uma espécie de vergonha por estarmos num canto da Europa (seja Sul ou Oeste, como alguns novos complexados agora pretendem localizar-nos), mas certamente periféricos.

Sem querer (ou querendo - ver blog anterior, ainda antes de saber o que me ia acontecer) , vim nos últimos meses parar ao Brasil, onde estou a residir numa cidade maior que o meu País.

Aqui, todos os dias se valoriza o que é brasileiro, as empresas batem no peito pelo que fazem pela Nação, o Estado orgulha-se da evolução do País. E não há roubos, não há corrupção, insegurança, incertezas? Claro que sim, mas há auto-estima e fé inabaláveis.

Os brasileiros repetem muitas vezes que são "abençoados por Deus". Mesmo quando não têm o que comer, mal têm onde dormir e não saem se vão chegar a casa vivos do trabalho.

Há quem lhes chame conformados. Eu acredito que são descomplexados. Os Brasileiros são o que são, acreditam no que acreditam e podem vir dizer o que quiserem, eles continuarão assim.

Nós, Portugueses, parecemos uns "meninos", filhinhos mais novos, incorfomados se não tivermos a aprovação dos papás e dos manos. E se aparece uma boneca que diz que somos feios em vez de sermos bonitos, ficamos muito aflitos. Se aparece um não-crente ferindo as nossas crenças, ai Jesus Mãezinha.

Cresçamos e ganhemos senso...

Deixe-no vir, que estamos cá para eles.

O topo do Mundo está aqui, e em qualquer lugar. Nós estamos no topo do Mundo.

Pelo menos, assim parece aqui deste periscópio.

terça-feira, julho 14, 2009

E esta, hein?

Estava eu todo preocupado com as férias que se aproximam, fazendo contas sobre o que poderia ou não fazer, quantos dias, quantos mimos, quantos luxos, quando fui confrontado por uma doce e carinhosa carta vinda do nosso Ministério das Finanças, com a conta do IRS.

E eu, que todos os anos alardeio a prudência com que desconto mais do que o devido, procurando realizar uma poupança que me permita chegar a férias e receber um prémio pelo meu bom comportamento fiscal, não poderia ter recebido maior surpresa!

Em vez desse prémio tão desejado, recebi uma conta, uma nota fria e dolorosa, informando-me que as várias dezenas de milhar de euros deixadas já em sede de IRS não eram, afinal, suficientes para cumprir as minhas responsabilidades fiscais.

Fiquei chocado, é bom de ver, pois não sou assim tão abastado, apenas um jovem empreendedor, procurando criar algum fundo de maneio para o futuro incerto a curto e a longo prazos...

Liguei à minha contabilista, boa Amiga e competente técnica, na esperança de que ela houvesse encontrado um qualquer erro na declaração, uma má inserção, qualquer coisa que pudesse transformar a dolorosa carta num maravilhoso equívoco. Mas não... A declaração estava correcta, os valores a pagar eram "os devidos".

Procurei perceber o que se passava, ela explicou-me:

- Tenho rendimentos de uma casa que comprei com empréstimo bancário, um PPR que a família procura manter com esforço, pagando as rendas do banco integralmente com as rendas que recebemos. Mas, eis que a renda recebida entra totalmente para o Rendimento, mas a renda paga não. E, coitadinho do Estado, neste ano de Investimento Público, há-que ir buscar dinheiro a algum lado. Então, reduzamos os limites de dedução, para que esses malandros que tentam investir percebam que o melhor é estarem quietos. Mensagem percebida, Sr. Ministro das Finanças!

- Estou a tentar criar uma empresa com um amigo, mas quando fomos estudar a tributação das receitas, verificámos que afinal, estou a criar uma empresa com dois sócios - o meu Amigo e o Estado. Fui, por isso, ao Ministério, saber o que o meu sócio Estado me estava disposto a dar, como apoio. Depois de várias reuniões e estudos de financiamento, a conclusão é simples: Uma palmadinha nas costas e as contas no final do ano.

Perante tudo isto, as palavras desse ícone da comunicação que acompanhou a minha infância e juventude, algures no final do telejornal, soaram na minha cabeça: "E esta, hein?"

Isto é que é parceiro! Sejamos sinceros e honestos, eu sou o primeiro a querer ter os meus impostos pagos e acertados, mas perante uma postura vil e tão pouco parceira, confesso que me sinto desmotivado. E perante coisas como estas, dá vontade se ser Brasileiro...

Será que eles também são assim com os impostos? Bem, mas pelo menos, dão-nos aquelas praias maravilhosas e os petiscos ASAE-free, que fazem tudo tão mais barato...

Que ricas férias se avizinham!

terça-feira, maio 12, 2009

O serviço

Os dias passam, reuniões (mais ou menos) secretas de (mais ou menos) políticos realizam-se com objectivos (mais ou menos) de Estado.

Os jornalistas tremem com o fervor das campanhas que se avizinham, os designers e publicitários perdem o sono (re)criando slogans e mensagens que (supostamente) levarão mais pessoas às urnas, no primeiro fim-de-semana de Junho.

É a campanha para as Europeias, convivendo com a das Autárquicas, pré-convivendo com a das Legislativas.

E os chavões começam: "vitória", "maioria absoluta", dizem uns. "desgraça", "calamidade", ("fascistas" até) dizem outros.

E o povo espera, pacientemente, por esse dia, e vê-o passar desinteressadamente, talvez pensando em ir votar, se não estiver calor, se não quiserem ir ao shopping, se se lembrarem, se não for preciso ir visitar a sogra, o amigo, a madrinha, enfim, se não pudermos mesmo fugir.

Valham-nos os belgas, onde se passa multas a quem não votar! Aí, ao menos, ninguém se queixa depois das eleições sem ter exercido o seu direito de opinião.

Eu junto-me aos desencantados. Não porque não acredite nos políticos, não porque pense que o meu voto não tenha valor. Antes porque ACREDITO neles.

Acredito na sua pequenez, no seu egocentrismo, na sua irredutível vontade de servir os seus interesses e os dos seus partidos.

Para mim, falta uma palavra nestas (e em todas as) eleições.

Sonho com o dia em que alguém dedique uma campanha ao SERVIÇO. Serviço do seu país, serviço dos eleitores e dos não eleitores. Sonho com o dia em que, findas as contagens de votos, um partido se congratule com os X milhares de votos recebidos e se responsabilize, não apenas por esses, mas por todos.

Sei que eles tentam. Sinceramente, acredito que alguns (ainda) acreditem. E tentar, já dizia algum sábio antigo, tentar é uma obrigação. Já conseguir, nem sempre...

Por isso, vou esperar. Um dia, talvez tente. Talvez acredite que possa ajudar, e vá a essa luta. Mas hoje, hoje não. Ainda não acredito que possa fazer a diferença. Ainda tenho coisas minhas em que pensar, e não tenho tempo para estar ao serviço.

Mas daqui, desta janela para o mundo, vou esperar. E a paciência é uma virtude.

quinta-feira, maio 07, 2009

Equilíbrios

Relaxando após mais um dia intenso de trabalho, jantava em frente à televisão assistindo a séries americanas da moda, procurando nos encontros e desencontros, nos amores e desamores, nos equilíbrios e desequilíbrios dos seus personagens pontos de equilíbrio para mim e para o meu dia.

Sou e sempre fui um fã de televisão e cinema "popcorn", produtos de consumos simples, sem complicações, incapazes de criar azias ou insónias, no fundo, produtos simples, tipo "pastilha" de descanso mental. E fascinam-me esses argumentistas (tantas vezes) industriais, capazes de escrever as falas de tantos e tão diversos personagens.

Pergunto-me muitas vezes quem serão essas pessoas por detrás das falas.

Hoje, assisti a espisódios de suas séries seguidas, que sendo de épocas diferentes, são (acho eu!) escritas pela mesma pessoa. E sendo um fã da psicologia de bolso, procurava ver nas série o reflexo dos seus autores. Ficou-me clara numa delas a imagem de um escritor jovem, acelerado, com a cabeça a latejar de ideias, de histórias, de emoções intensas mas superficiais. E ainda que os jovens sejam certamente profundos, quantas e quantas vezes a intensidade e sofreguidão dos seus sentimentos nem lhes chega ao fundo da alma, quase como um incêndio devastador que, galgando com tanta força os montes, passa tão depressa pelas árvores que não as chega a queimar.

A outra, por seu lado, reflectia um escritor mais maduro, mais preocupado com a profundidade dos seus sentimentos, ainda que por vezes inebriado na intensidade. Mas onde essa intensidade é como que um bem-vindo regresso ao passado temporário e não um conflito hormonal permanente.

Nesta segunda série, as histórias são talvez menos intrincadas, e certamente mais simples, ritmadas, balanceadas por outros sentimentos, convicções e experiências.

Isto pôs-me a pensar em equilíbrio, e em como ele é vulnerável, dinâmico e subjectivo.

Há muito quem me pense flexível, dobrável, influenciável.

E, no entanto, tal não passa de uma estratégia de sobrevivência e pesquisa da felicidade.
Porque me considero racional, não acho que o equilíbrio tenha de ser a meio. Acho, isso sim, que cada pessoa e acção têm o seu ponto de equilíbrio próprio.

Acho que por ter esta visão dinâmica, diria até mesmo criativa do equilíbrio que me sinto confortável a negociar, a procurar o ponto de encontro, de igual satisfação, de majoração do resultado.

E a vida é uma gestão de equilíbrios. No trabalho, em casa, no trabalho face a casa, na família face ao trabalho, face à casa, face a nós próprios e ao nosso individualismo.

E o mais interessante é que cada um destes equilíbrios é dinâmico, variável, oscilante, impedindo as receitas e as medidas e trazendo à vida uma carga de incerteza e adrenalina por vezes angustiante.

Hoje, este blog é feito de mim. Talvez porque precise dele para encontrar de novo o ponto de equilíbrio. Talvez porque às vezes faz-nos falta recolher o periscópio e olhar para nós mesmos.

Para então encontrarmos o nosso equilíbrio.

quarta-feira, abril 22, 2009

As coisas simples da vida

Sou uma pessoa simples. Simples porque não gosto de complicado. Gosto simplesmente de coisas simples.

Gosto de regras simples, de explicações simples, de comidas simples, de músicas simples, de livros simples de filmes simples.

Fico cheio de calafrios quando ouço as palavras "Ui... isso é complicado!".

E ainda mais cheio de calafrios quando simplesmente ouço "Ah, mas isso não é assim tão simples..."

Tenho ouvido nas notícias muitas coisas, poucas simples.

Um dirigente do meu Boavista (alegadamente) tentou corromper alguém. É simples. Condene-se (se provado) o dirigente! "Ui... isso é complicado!". Então, simplesmente condena-se o clube! Mas se num Banco, alguém corrompe, ninguém penaliza o Banco...

Um candidato às Europeias e às Legislativas ao mesmo tempo (ou às Autárquicas, ou, porque não às três ao mesmo tempo) nunca terá possibilidade de se dedicar totalmente a nenhum dos cargos. "Ah, mas isso não é assim tão simples..." Ah não?!? Então expliquem-me, para eu poder em vez de ter dois trabalhos, ter um e ir de férias ao mesmo tempo!

Um editor de jornal deve assegurar informação imparcial. "Ah... Ui... etc. etc etc." Pois, já sei. Mas quando vejo um artigo como ontem vi, prevendo de uma forma parcial uma entrevista do Primeiro Ministro (repito, prevendo, não comentando após a sua realização!), parece-me que nem as notícias são simples hoje em dia

Aprendi algures no meio dos estudos uma expressão que me ficou: KISS - Keep It Simple, Stupid!

Neste momento, já não sei a quem o Stupid se referia. Se a quem complica, se a quem não consegue ver as coisas de forma simples.

Eu gosto das coisas simples da vida.

Por isso, por vezes simplesmente desligo, para não ver e ouvir tanto disparate. É mais simples...

sábado, março 07, 2009

A crise acabou!

Estava eu triste, cabisbaixo, olhando com desencanto a minha conta bancária, preocupado com as perspectivas de contas futuras e menores perspectivas de rendimentos futuros quando deparei com uma transferência cujo valor (nem origem) reconheci.

No assunto, referia "Direcção", e o valor era generoso!

Será que a Direcção da empresa onde trabalho me quis premiar pela dedicação e empenho que lhe tenho dedicado?
Ou seria a Direcção do Banco que, generosa, decidiu premiar os seus clientes para além dos seus gestores?
Talvez a Direcção da Santa Casa, incentivando-me a concorrer ao jackpot mais recente do concurso da moda?

Quis pegar no dinheiro e marcar umas férias, comprar prendas para a Família, reforçar as poupanças (afinal, a crise das perspectivas ainda pairava no ar...), quis partir, deixando o trabalho para trás, para celebrar esta vitória antecipada do ego e da conta bancária, mas, por um qualquer irracional sentido de prudência, quis ligar para o banco e perguntar de onde vinha.

Espantei a pobre bancária que me atendeu, confusa com a pergunta que lhe colocava. "Mas tem a certeza que não é seu?!?"
"A certeza não tenho, mas não o reconheo, veja por favor de onde veio..."

A conversa durou poucos minutos, a que se seguiu um longo período de espera, um suspense perturbador de dúvida e incerteza sobre o dinheiro e o futuro.

"Sr. Dr., a quantia vem da Direcção-Geral das Alfândegas..."

Uma luz acendeu-se na minha cabeça! Há muito tempo atrás, havia adquirido no exterior um carro para a família, e aguardava, de facto, a devolução de uma qualquer taxa (escandalosa!, abusadora!, dissera eu na altura). Aí estava ela.

E, de repente, tudo ficou mais claro para mim.

O Estado, essa entidade sempre tardia a pagara, sempre em défice, afinal tinha dinheiro!

E se eles, os pobres, os que tanto precisavam dos nossos impostos, taxas e selos que nunca vi, os nossos sócios nas receitas e ausentes nas perdas, ali estavam eles a pagar-me o que era meu.
Sem juros, é certo, mas pago!

Percebi nesse momento que a crise acabou. O Estado tem dinheiro! E se o Estado tem dinheiro, podemos ir para o desemprego, para a bancarrota, para onde for, que o Estado há-de andar aí a pagar as contas. E só com o dinheiro que nos deve, a cada um de nós, havemos de sobreviver!

Vamos receber as baixas, os abonos, os juros estrategicamente retirados dos certificados de aforro, os acertos de arredondamento das empresas públicas e as taxas de serviços que não existem ocultas nas contas da luz.

A crise acabou! Podemos começar a respirar de novo e agradecer aos Deuses por isso.

Agora, é só olhar para a conta bancária e sorrir...

domingo, janeiro 18, 2009

Israel Out of the Box

As gripes da estação, que chegaram esta semana a toda a minha comunidade familiar tiveram a virtude de me fazer passar horas na cama, deitado, degladiando-me com os meus pensamentos.

Pouco adepto de televisores nos quartos (acho que os livros e uma boa aparelhagem são muito mais vantajosos e positivos para o ambiente familiar), estas são as únicas alturas em que abo excepção disso, pois, preso a um leito, toda e qualquer porta para o exterior é bem-vinda, qual jangada de socorro a náufragos...

Dei por mim, nestes dias, a acompanhar a triste (e algo repetitiva) situação do Médio Oriente, e não pude deixar de me arrepiar com o comportamento dos israelitas, que, do cimo de um monte junto à Faixa de Gaza, aplaudem e festejam a desgraça que acontece aos seus vizinhos.

Acredito, sinceramente, que os judeus israelitas não são loucos nem sádicos, como creio piamente que os palestinianos tambem não são terroristas. Trata-se de povos cheios de feridas recentes e mais longínquas com dificuldades de entendimento seculares, ainda que o país Israel não seja assim antigo.

Mas pus-me a pensar se haveria alguma forma, por mais surreal que fosse de acabar com este clima. E então, ocorreu-se-me! É claro que sim. E se Israel fosse o melhor amigo da Palestina?!?

Aim, eu estava om febre, mas não o suficiente para entrar em delírios. Apenas me limitei a fazer um exercício mental simples.

Imaginemos que Israel fornece TUDO à Palestina, tudo mesmo:

Comida, medicamentos, infra-estruturas, armas, até.

Será que os Palestinianos quererão, ainda assim, eliminar o Estado de Israel?

Será que o Al Corão lhes permite isso?

Será que o povo da Palestina, se sentisse no povo de Israel um povo Amigo no mais completo sentido da palavra, se deixaria levar pelos fundamentalistas?

Seria uma mudança muito grande nos comportamentos...

Sendo os judeus tão bons negociantes, será que não conseguem ver isto?!? É os mesmo que querer entrar num determinado mercado com um determinado produto. Claro que, provavelmente, só com tempo esta medida daria frutos, e concerteza, haveria muitos, MUITOS incidentes pelo meio.

Mas acredito sinceramente, deste sítio para onde olho o Mundo, que daria frutos positivos. E todos seríamos certamente mais felizes.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ano Novo

Os anos e os aniversários trazem-me sempre uma espiritualidade algures entre o saudosista e o inspirado.

Saudosita porque, de repente, passa-se um dia mas parece que é muito mais. De repente, somos tomados pela "febre dos balanços" e acreditamos que o passado ficou definitivamente lá atrás, distante, como se aquelas 24 horas representassem qualquer coisa muito mais profunda!

Inspirado, porque é nestas alturas que nos enchemos de fé e esperança de que tudo começa de novo (algures como se chegássemos à Casa "Partida" do Monopólio) e a força que emana de nós é capaz de nos fazer chegar a qualquer lado, de nos permitir fazer qualquer coisa em qualquer altura.

O ano novo faz de nós Super-Homens de bolso, mas em forma de balão que se esvazia rapidamente, algures entre a primeira semana do ano e os dias subsequentes.

Mas a crise também deve ter chegado às esperanças. Porque este ano sinto-me incapaz de sonhar em grande (logo eu, que passo a vida a dizer que para pequena já basta a vida!), de acreditar que vou fazer o Mundo parar à minha custa.

Uns poderão chamar-lhe maturidade. Outros, desencanto. Mas eu acho que é mesmo da crise. Esta coisa de passarmos o dia a ser bombardeados com desgraças financeiras e sociais não nos dá sossego, nem aos nossos sonhos.

E não há pior que atacarem os sonhos das pessoas.

É por isso, que este ano a saudade é maior. A saudade dos tempos passados, mas também daqueles tempos futuros que, afinal, já não vão acontecer este ano. Talvez no seguinte. Ou no outro, se lá chegarmos, se Deus quiser, o tempo deixar e o trânsito permitir (citando um ilustre Professor dos tempos da Universidade).

Até lá, vivemos estes tempos, de saldo, de reduções nos sonhos e nas realidades, que não é tempo para brincadeiras.

Estão a tirar a piada toda à vida.

Já não bastava as mentiras dos políticos, as desgraças do futebol ou as novelas e reality shows. Agora, já entram pela nossa cabeça e destroem os sonhos...

Não é justo! Mas lá havemos de chegar...

Afinal, somos Portugueses, desenrascados por natureza. ambiciosos por herança genética e sonhadores por fado.

Lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde. E por sabermos isso, cá vamos vivendo "nunca pior!" (dizia o Eça em algum livro) com as nossas pequenas vitórias de cada dia.

É nestas alturas que vale a pena ser Português. Habituados que estamos a sermos uns desgraçados, pelo menos agora sabemos que não estamos sozinhos. E cá haveremos de conseguir tirar algum proveito da coisa...

Pelo menos, assim parece desta janela para o mundo exterior...