segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ano Novo

Os anos e os aniversários trazem-me sempre uma espiritualidade algures entre o saudosista e o inspirado.

Saudosita porque, de repente, passa-se um dia mas parece que é muito mais. De repente, somos tomados pela "febre dos balanços" e acreditamos que o passado ficou definitivamente lá atrás, distante, como se aquelas 24 horas representassem qualquer coisa muito mais profunda!

Inspirado, porque é nestas alturas que nos enchemos de fé e esperança de que tudo começa de novo (algures como se chegássemos à Casa "Partida" do Monopólio) e a força que emana de nós é capaz de nos fazer chegar a qualquer lado, de nos permitir fazer qualquer coisa em qualquer altura.

O ano novo faz de nós Super-Homens de bolso, mas em forma de balão que se esvazia rapidamente, algures entre a primeira semana do ano e os dias subsequentes.

Mas a crise também deve ter chegado às esperanças. Porque este ano sinto-me incapaz de sonhar em grande (logo eu, que passo a vida a dizer que para pequena já basta a vida!), de acreditar que vou fazer o Mundo parar à minha custa.

Uns poderão chamar-lhe maturidade. Outros, desencanto. Mas eu acho que é mesmo da crise. Esta coisa de passarmos o dia a ser bombardeados com desgraças financeiras e sociais não nos dá sossego, nem aos nossos sonhos.

E não há pior que atacarem os sonhos das pessoas.

É por isso, que este ano a saudade é maior. A saudade dos tempos passados, mas também daqueles tempos futuros que, afinal, já não vão acontecer este ano. Talvez no seguinte. Ou no outro, se lá chegarmos, se Deus quiser, o tempo deixar e o trânsito permitir (citando um ilustre Professor dos tempos da Universidade).

Até lá, vivemos estes tempos, de saldo, de reduções nos sonhos e nas realidades, que não é tempo para brincadeiras.

Estão a tirar a piada toda à vida.

Já não bastava as mentiras dos políticos, as desgraças do futebol ou as novelas e reality shows. Agora, já entram pela nossa cabeça e destroem os sonhos...

Não é justo! Mas lá havemos de chegar...

Afinal, somos Portugueses, desenrascados por natureza. ambiciosos por herança genética e sonhadores por fado.

Lá chegaremos, mais cedo ou mais tarde. E por sabermos isso, cá vamos vivendo "nunca pior!" (dizia o Eça em algum livro) com as nossas pequenas vitórias de cada dia.

É nestas alturas que vale a pena ser Português. Habituados que estamos a sermos uns desgraçados, pelo menos agora sabemos que não estamos sozinhos. E cá haveremos de conseguir tirar algum proveito da coisa...

Pelo menos, assim parece desta janela para o mundo exterior...

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